Como evolução de cirurgias cardíacas dá mais segurança a pacientes
A Válvula Aórtica Bicúspide é uma anormalidade congênita rara que ocorre na válvula aórtica do coração e acomete entre 0,5% e 2% da população
A Válvula Aórtica Bicúspide é uma anormalidade congênita rara que ocorre na válvula aórtica do coração – uma estrutura muito importante que controla a saída de sangue do ventrículo esquerdo do órgão, como uma porta -, e acomete entre 0,5% e 2% da população. A empresária Danielle Ferreira Camargo Braga faz parte dessa parcela de pessoas que possuem tal anormalidade desde que nasceu em 1981.
Apesar de nascer com a anomalia, a mulher só descobriu o problema cardiovascular em 2008, aos 27 anos, ao fazer um check-up de rotina. Ao apresentar o diagnóstico, o médico cardiologista que ela consultou, informou que no futuro, Danielle teria que fazer uma cirurgia no coração para corrigir o problema.
A descoberta não mudou muito a vida da empresária, que não sentia sintomas, mas periodicamente consultava o médico e fazia exames para saber como estava a saúde do coração. No entanto, há cerca de dois anos, os primeiros sinais de que o problema estava se agravando, começaram a aparecer. “Eu cansava de ficar conversando; tinha que parar de falar porque minha voz não conseguia sair; se eu ficasse nervosa, então, faltava o ar”, lembra. Mas foi no início deste ano, que o quadro realmente se agravou, pois a válvula estava calcificando e deixando pouco espaço para passagem de sangue.
O futuro havia chegado, e era hora de fazer a tão temida cirurgia cardíaca. “O cardiologista, dr. Maurício Prudente, me avisou que eu teria que fazer a cirurgia cardíaca de troca de válvula em breve”, conta. Foi quando Danielle ficou sabendo que havia uma nova técnica cirúrgica minimamente invasiva, realizada no Hospital Encore, de Aparecida de Goiânia.
Com a data do procedimento agendada para o dia 1° de julho de 2023, a empresária, que à época sentia dor e ardência no peito, temia pela própria vida. “Eu falei que tinha muito medo da cirurgia, porque seria complexa, feita com o coração parado e circulação sanguínea extracorpórea, realizada por uma máquina”.
Como planejado, a cirurgia cardíaca minimamente invasiva ocorreu sob o comando do cirurgião cardiovascular Artur Henrique Souza e o coração de Danielle passou a ter uma prótese biológica no lugar da válvula bicúspide. O profissional explica que o procedimento cirúrgico foi realizado através de um pequeno corte, acima do seio da mulher, do lado direito. Houve também uma incisão na virilha, por onde foi introduzido um cateter pela artéria.
Após a cirurgia, a empresária saiu do centro cirúrgico extubada e foi consciente para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde ficou internada menos de 24 horas. Ela recebeu alta após dois dias de internação no hospital, e foi para casa, onde continuou se recuperando. Para os médicos, esse é um “resultado extraordinário”, por se tratar de uma cirurgia cardíaca. “O médico disse que eu iria fazer em casa o que faria no hospital, que seria tomar remédios para dor, mas com a vantagem de, em casa, diminuir o risco de infecção hospitalar”, conta a empresária.
Danielle, que administra a empresa da família, voltou ao trabalho após 15 dias, por autorização médica. Ao completar 6o dias, desde que havia feito a cirurgia no coração, a mulher foi liberada pelo médico, a fazer exercícios físicos. “O médico disse que posso fazer academia, musculação e até correr”, comemora Danielle, que atualmente tem 42 anos, ao dizer que se sente “maravilhosamente bem”. “Eu me tornei uma pessoa muito emotiva e grata por ter dado tudo certo no procedimento e pela segunda chance de poder viver sem restrições”, finaliza.
Técnicas cirúrgicas tradicionais com procedimentos menos agressivos
A técnica, utilizada por cirurgiões do Hospital Encore, consiste na realização de procedimentos de correção, reconstrução e substituição de estruturas cardiovasculares, através de incisões de cerca de 3 a 6 cm. A técnica apresenta resultados positivos ao promover a redução de tempo de hospitalização e suas possíveis consequências, além de viabilizar a recuperação mais rápida do paciente.
“Essa cirurgia é inovadora porque reúne técnicas cirúrgicas tradicionais com procedimentos menos agressivos. Ou seja, são feitos cortes bem menores, sem a necessidade de serrar o osso do tórax (esterno), e é utilizado instrumental apropriado e desenhado especificamente para essa finalidade”, explica o cardiologista Maurício Prudente, diretor médico do Encore.
Este instrumental, por sua vez, é guiado por ultrassom transesofágico – exame médico busca avaliar de forma aprofundada as estruturas do coração do paciente, com destaque para as válvulas do coração -, o que possibilita visualizar e conferir, ainda em sala, o resultado cirúrgico. “Por isso, essa técnica é chamada de cirurgia minimamente invasiva”.
O médico afirma ainda que os benefícios alcançados com esse tipo de cirurgia se devem ao fato de as incisões serem muito menores do que em cirurgias convencionais, possibilitando que elas agridam menos o organismo e geram menos respostas inflamatórias. “Acredita-se que essa inflamação é a grande responsável por algumas complicações ou efeitos adversos no pós-operatório”, afirma.
“O formato dessa cirurgia cardíaca é exatamente como o da convencional. Entretanto, a diferença está no instrumental especial utilizado, que possibilita a realização de cortes mínimos, sem ter que abrir o esterno”, acrescenta o cirurgião cardiovascular Artur Henrique.
De acordo com o cirurgião, ao longo de oito anos, a técnica foi sendo aperfeiçoada pela sua equipe, com o apoio da direção do Encore, que investiu em equipamentos e tecnologia. Os resultados alcançados colocaram o hospital como referência no Brasil para a realização dessa cirurgia.
Além dos benefícios clínicos, a cirurgia cardíaca minimamente invasiva favorece a parte estética do paciente. “Conseguimos trocar uma válvula mitral com uma incisão na aréola da mama, ou seja, fazemos a mesma incisão que um cirurgião plástico faz, deixando o corte quase imperceptível”, ressalta Maurício Prudente.